“Membrana”
Tomás Moital / percussão
Pierre Carré / electrónica
PROGRAMA
• Siting Jiang (1987-): "To Come Into Focus"
• Ash Fure (1982-): "Shiver Lung 2"
• Pierre Carré (1995-): "Convolution"
• John Cage (1912-1992): "But what about the noise […]"
Nota de Programa:
Nascido da colaboração entre o percussionista Tomás Moital e o artista sonoro Pierre Carré, o espetáculo Membrana propõe uma exploração musical à flor das peles: a dos tambores, a dos altifalantes. A membrana é um ponto de encontro entre as percussões e os altifalantes, pois esta é, tanto para um como para o outro, um dos componentes elementares para a produção sonora – uma ferramenta de produção acústica mas também um instrumento musical. Assim, através do jogo de porosidades orgânicas, as percussões transmutam-se em quimeras sonoras e a eletrónica torna-se um instrumento incarnado: da interpretação de dois arquétipos musicais nascem novos hibrídos.
O programa musical, metendo em observação diversas composições contemporâneas, é pensado como uma continuidade sustentada da porosidade entre a eletrónica e a acústica, materialidade e virtualidade, realidade e miragem. Cada uma das obras anexa-se da sua própria maneira aos dois meios: musica eletrónica incarnada em membranofones (Concrete PH), percussão solista acompanhada por eletrónica (To Come into Focus), percussão tocada em altifalantes (Shiver Lungs), instrumentos híbridos (Untitled), músicos acústicos e virtuais (But what about the noise […]); da multiplicidade de articulações que partem do mesmo ponto de partida único nasce uma ambiguidade de categorias musicais, tanto que progressivamente os instrumentos e os corpos se confundem.
O público, cercado pelas peles translúcidas de caixas de rufo, toms e bombos que, como autênticos centros de gravidade, ganham vida durante a performance por intermédio de transducers eletrónicos, é convidado a uma viagem acústica num espaço musical em permanente mutação. Esta organização espacial mantém a ilusão da proveniência do som e de quem são os seus agentes produtores.
O ouvinte é assim mergulhado num universo musical ambíguo que emerge de múltiplas membranas, revelando uma palete sonora táctil com uma variedade insuspeita, emancipada de estereótipos sonoros. É portanto a uma reflexão performativa sobre as nossas precondições musicais que nos convida o espetáculo Membrana
Bios:
Músico e matemático, Pierre Carré tem o Diploma do Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris em Escrita, Orquestração e Musicologia, e é doutoradoem investigação em Mecânica e Acústica pelo UPMC/IRCAM. As suas preposições artísticas transdiciplinares, associam artes sonoras e visuais, explorando temáticas quese intercecionam nas esferas da cultura, da natureza e tecnologias. Provenindo da sua experiência enquanto investigador da equipa de acústica instrumental do IRCAM,pesquisa actualmente através da preparação de obras artísticas, diferentes dispositivos híbridos para estender as possibilidades da instrumentação clássica e diluir asfronteiras entre a música acústica e eletrónica. Em 2022, participou em diferentes manifestações em torno do centenário do nascimento do compositor Iannis Xenakis (exposição na Philharmonie de Paris, conferências, publicações). O trabalho de pesquisa musicológica que desenvolve ao longo dos anos sobre Xenakis permitiu-o aindareconstruir o Polytope de Cluny, uma obra emblemática entre som e luz que foi reinterpretada no festival Manifeste, cinquenta anos após a sua criação. Em paralelo às suas actividades pessoais, Pierre Carré trabalha regularmente no IRCAM como realizador de diferentes projetos de informática musical, tendocolaborado com diversos compositores e artistas como Aureliano Cattaneo, Roque Rivas, Murcof, /nu/thing, le studio ExperiensS e Qudus Onekiku.
Tomás Moital é um percussionista multidisciplinar. O seu trabalho abrange as áreas de solista, músico de ensemble e performer. É performer em cinco peças de MarleneMonteiro Freitas nomeadamente “de marfim e carne – as estátuas também sofrem” (2014), “Bacantes – prelúdio para uma purga” (2017), “Mal – Embriaguez Divina” (2020) e“Lulu” ópera de Alban Berg encenada pela coreógrafa e que estreou em 2023 com a Orquestra Rádio de Viena sob a direção de Maxime Pascal e “Nôt” (2025) estreada no Festival d'Avignon. Colabora regularmente com ensembles de música contemporânea, tendo tocado com: Sond’arte electric ensemble, ensemble mpmp, Epoch f e coletivo Pedro Carneiro. Em 2019 estreou o seu primeiro solo “desabafo” que foi selecionado como talento emergente pelo mic (centro de investigação e informação da música portuguesa). Em 2023 organizou a colaboração entre Les Percussions des Strasbourg e percussionistas portugueses para interpretar a peça de Ryoji Ikeda “100 cymbals” no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian.
Apresentou-se em diversos teatros e festivais como: Centre Georges Pompidou (Paris), Kustenfestivaldesarts (Bruxelas), Kyoto Experiments Festival (Kyoto), Athens andEpidaurus Festival (Atenas), BAM festival (Nova Iorque), Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (Lisboa) entre outros. Reunidos pelo interesse comum para a performance visual e sonora, e pela utilização de novos meios e técnicas musicais e expressivas, os dois artistas conceberam em conjunto o espetáculo “Transformer l’Homme” em homenagem ao universo do compositor e arquiteto Iannis Xenakis. Esta performance junta percussões, coro, musica eletrónica espacializada e uma instalação luminosa, e foi estreada em 2022 no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. Depois do sucesso desta primeira colaboração, continuam hoje em dia a perseguir novas explorações artísticas em tandem.

