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Ópera REGRESSO de João Quinteiro

  • O'culto da Ajuda 25 Travessa Zebras Lisboa, Lisboa, 1300 Portugal (map)

Ópera Regresso (composição e libreto de João Quinteiro - a partir de poemas de José Mário Silva)

 Cantores
Laura Pimenta (S) - Eurídice
Camila Mandillo - (S) Penélope
Marco Ferreira (T) - Hermes
Diogo Oliveira (B) - Sísifo
João Emanuel Silva (B) - Prometeu
Miguel Azguime (actor) - Homero 

Solistas
Marco Fernandes (Perc)
Salomé Pais Matos (Hp)
Henrique Portovedo (Sax)
Francisco Martins (Ac)
Miguel Amaral (P. Guit) 

Concrète {LAB} Ensemble
Clara Saleiro - (Fl) + (atriz - Ariadne)
Miguel Dias  - (Ob / Aulos duplo)
Tiago Mourato - (Cl) + (actor - Ícaro)
Nuno Caetano - (Tpa)
Tiago Pinheiro (Tpa)
Pedro Rolo - (Tbn)
Miguel Alves - (Tuba)
Nuno Pinto (E. Guit.) + (actor - Orfeu)
Beatriz Costa - (Vln)
Ana Campos - (Vla)
Pedro do Carmo - (Vlc)
Raquel Leite - (CB) 

BILHETEIRA

Equipa

João Quinteiro - Composição, Direção Artística, Libreto (a partir de poemas de José Mário Silva)
Pedro Pinto Figueiredo - Direcção Musical
Tiago Barreiros - Encenação e Luzes
Sinem Tas - Produção Vídeo
Alexandre Furtado - Apoio Técnico
Afonso Gonçalves - Apoio de Palco

“Todos os caminhos levam à noite,

à sua cilada de estrelas e penumbra.”  

O tempo mitológico derrama-se aos poucos sobre o quotidiano invisível.  Cinco personagens tangenciais habitam uma Lisboa feita de interstícios e deslumbramento. Cruzam-se, mas mal se vêem. As Madrugadas sucedem-se, entre recantos e falésias, como as marés, repetindo há muito tempo cada gesto.

No Cais do Sodré, Eurídice sai de uma discoteca, apanha o metro e segue para Sete Rios, onde Orfeu espera, ansioso. Eurídice é livre e quer, mais que tudo, poder querer.

São sete da manhã e o medo do desconhecido, como uma serpente, esconde-se entre as sombras ao longo do Rio Pineios de cujo lento correr é um prenúncio que encaminha Eurídice ao submundo.

Através de uma janela na Mouraria, Penélope contempla o Tejo e espera. Em Ítaca, o horizonte encerra o infinito de um Ulisses ausente, que “anda embarcado há muitos anos”, talvez regresse.

Como ontem, é novamente meio-dia, e Penélope espera.

Sísifo conduz um camião de lixo e “já conta os dias que lhe faltam para a reforma”. Ao longe, do Golfo de Corínto só resta a memória, como uma pilha de lixo, rotineira e circular que se ergue e tomba, outra e outra vez.

No cruzamento da Av. de Berna com a 5 de Outubro, Hermes sente “a ferida mais funda”. São nove da noite, mas o tempo rompeu a ilusão de que o passado caminha para diante. “Dizem que ía depressa de mais”. Hermes não viu o semáforo vermelho e agora contempla o silêncio, deitado na ambulância. O sol nasce no Monte Kyllini, os sonhos de Hermes, espalhados pelo alcatrão como uma embarcação frágil que atravessa o mar Egeu.  

Prometeu “confundiu o álcool com o fogo dos Deuses”. Deambula pela noite, porque as gravatas lhe dão asco. Numa taberna na Graça, “a cirrose há muito que lhe devora o fígado, meticulosa e fiel.” As cordilheiras do Cáucaso estendem-se pelo horizonte, enquanto Homero desce do comboio em Santa Apolónia.

 

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